terça-feira, 23 de outubro de 2012

A Censura já está passando dos limites



Um Estado democrático, em teoria, deve permitir qualquer manifestação de opinião dos cidadãos desde que não haja ofensa ou violência. Inibir a manifestação de opiniões apenas por ser contrária aos interesses de um grupo qualifica-se como censura. Talvez muitas pessoas achem que censura parte apenas do Governo. Porém, o Campeonato Brasileiro de 2012 está provando que não é bem assim.

Pela 27ª rodada, ocorreram dois atos de censura contra o torcedor. O primeiro foi no jogo Náutico x Atlético/GO, no estádio dos Aflitos. A torcida pernambucana exibiu uma faixa com os dizeres “Não irão nos derrubar no apito”, como uma forma de protesto ao escandaloso pênalti não marcado na partida anterior contra o Fluminense. De forma brutamente autoritária, o árbitro do jogo, Leandro Pedro Vuaden, se recusou a iniciar a partida enquanto a faixa não fosse retirada, atrasando o início do jogo em 18 minutos. A atitude foi completamente descabida, pois não havia nenhuma ofensa nos dizeres, apenas uma manifestação contra os erros ocorridos anteriormente. Em momento nenhum acusaram o árbitro da partida que se iniciaria de ser ladrão.

O segundo ato de censura na rodada foi ainda pior: na partida entre Palmeiras e Ponte Preta, a torcida do Palmeiras levou a seguinte faixa para o estádio: “Fora Frizzo e Tirone! Diretas já!”, em protesto aos dirigentes do clube. Após 22 minutos de partida, a polícia militar retirou a faixa do estádio. Não havia nenhuma frase de ofensa contra os dirigentes. Apenas uma reclamação do torcedor contra a administração que ele considera ruim. Então se o torcedor está insatisfeito com a diretoria do seu clube ele não pode questioná-la?

E se alguém achou que esses fatos foram isolados, a última rodada provou o contrário. No jogo Atlético/MG x Fluminense, a torcida mineira exibiu um mosaico com as letras “CBF” de cabeça para baixo nas cores vermelha, verde e branca. Um protesto contra os erros da arbitragem que beneficiaram o Fluminense nos últimos jogos. O árbitro do jogo nada fez a respeito, mas o procurador do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) já anunciou que irá analisar as imagens com o protesto. Ora, somente a ameaça de punição já é absurda. Não vou entrar no mérito se a manifestação é justa ou não, mas o torcedor tem o direito de reclamar. 

Pouco a pouco estão cortando a liberdade do torcedor. Ultimamente tem sido comum nos estádios alguns torcedores reclamarem que foram ameaçados por membros de facções ao se manifestarem contra jogadores ou dirigentes. Ao que parece, algumas diretorias desejam ter apenas “vacas de presépio” nos estádios, batendo palmas para tudo e não reclamando de nada, mesmo que estejam vendo algo com que não concordem. Mas isso vai além das diretorias dos clubes, já que até manifestação contra CBF ou arbitragem estão sendo coibidas.

O mais preocupante é que tais atos de censura pelas entidades esportivas tenham respaldo do poder público. No fato ocorrido na torcida do Palmeiras, foi a Polícia Militar, ou seja, o Estado, quem retirou a faixa. Baseado em qual lei a Polícia Militar tomou tal atitude? Do jeito que as coisas caminham no futebol brasileiro, daqui a pouco teremos jogos sem público. Ou apenas para Vips selecionados pelas diretorias e entidades esportivas. O restante do público, que se contente com a TV.

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