terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Enquanto clubes choram, arbitragem ri à toa



Vasco e Fluminense fizeram um bom jogo no último domingo. Talvez a melhor partida deste Campeonato Carioca. Com oportunidades criadas para ambas as equipes, o resultado não chegou a ser injusto, mas também ninguém reclamaria se houvesse empate ou vitória tricolor, tamanho equilíbrio na partida. O destaque, porém, não foi Fred, Deco, Alecsandro ou Felipe, mas sim, o árbitro Antônio Schneider.

Desde o primeiro tempo, o árbitro errou em lances capitais, como a não marcação de um pênalti de Dedé em Fred. No segundo tempo, enrolou-se mais ainda, invertendo faltas, distribuindo cartões desnecessários e não marcando outro pênalti para o Fluminense, desta vez de Fagner sobre Carlinhos. Como a maioria dos erros eram contra a equipe tricolor, os jogadores foram se exaltando cada vez mais até chegarem a receber o cartão vermelho, casos de Edinho e Fred.

Mas um fato curioso veio a ocorrer após o final do jogo. A Assessoria de imprensa do Fluminense correu em direção aos jogadores para que eles não reclamassem da arbitragem. Quase todos que saíram e foram entrevistados não foram veementes nas reclamações. Diego Cavalieri, por exemplo, disse apenas que o árbitro não manteve o mesmo critério. Reclamações mais contundentes vieram apenas dos dirigentes no dia seguinte ao jogo.

Em 2008, após ser prejudicado em uma decisão de turno do Campeonato Carioca, o Botafogo saiu derrotado para o vestiário do Maracanã. Em seguida, seus jogadores concederam entrevista ao choro e lágrimas. Tal episódio ficou conhecido como o "chororô" e foi largamente explorado pela mídia. Com o passar do tempo, o termo "chororô" começou a ser utilizado em outras situações onde o time que se acha prejudicado reclama da arbitragem. Não apenas os botafoguenses são mais acusados de choro. Em muitos casos onde o time reclama da arbitragem, a reclamação é rotulada como choro de perdedor.

Assim, para não passar por isso, a maioria dos clubes tem evitado reclamações mais contundentes. Também por medo de punição nos tribunais (já que com o árbitro nunca acontece nada). Além disso, raramente vemos a mídia endossar a reclamação do perdedor, preferindo sustentar a idéia de mero “choro”.

Com isso, criou-se uma situação onde os árbitros têm um terreno livre para fazer o que bem entendem. Erro de arbitragem passou de normal a aceitável e quem reclamar ou é chorão ou não está trabalhando direito. Em 2011, a Associação Nacional dos Árbitros de Futebol, ANAF, em nota oficial, desdenhou da reclamação do Botafogo a respeito de um jogo contra o Avaí na Copa do Brasil. Disse se tratar apenas de choro repetitivo. E ontem, após a reclamação dos dirigentes tricolores, o chefe da arbitragem carioca, Jorge Rabello, defendeu Antônio Schneider e disse que o Fluminense é que não está jogando nada. Ora, se o time tricolor não está atuando bem, isso é um problema para o técnico Abel Braga resolver. Não cabe ao Sr. Jorge Rabello palpitar sobre o modo de jogar de nenhuma equipe e usar isso como justificativa para defender seus árbitros. E ele cabe apenas zelar pela arbitragem para que erros como os de domingo não se repitam. Fato que, ao que parece, não acontecerá, já que disse não ter visto erros neste jogo. Se ele não queria "queimar" seu árbitro, então que não falasse nada em vez de argumentar desviando o foco.

E não é apenas o chefe da arbitragem que corrobora com tudo isso. Nos principais programas esportivos o máximo que se faz é reconhecer que houve falha do árbitro. Só que mesmo este reconhecimento vem acompanhado de um "mas", onde se critica a qualidade técnica e tática do time derrotado tentando minimizar o erro da arbitragem e sua influência no resultado. Comentários do tipo "futebol é legal por isso" e "erros sempre existiram" são comuns de se verem nesses debates. Comentaristas e repórteres, que muitas vezes reclamam da postura amadora dos clubes, acabam contribuindo para este amadorismo com este discurso.

Acredito que este é mais um problema que só será resolvido no dia em que houver união real entre os clubes. Os que hoje podem estar rindo do choro alheio podem chorar amanhã. O próprio Vasco saiu da Copa do Brasil de 2009 reclamando do árbitro no jogo contra o Corinthians. E terminou o Brasileiro de 2011 dizendo que foi o mais prejudicado. Assim, enquanto a postura for amadora e no campo da gozação, a situação não irá mudar. Entretanto, caso os clubes se unam de uma maneira profissional, buscando um campeonato organizado de maneira também mais profissional, poderão e deverão exigir mais profissionalismo e qualidade da arbitragem.

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